terça-feira, 28 de abril de 2009

Entrevista com J.S Faro

José Salvador Faro é graduado em História pela Universidade de São Paulo, mestre e doutor em comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo, respectivamente nos anos de 1992 e 1996.

Atualmente é docente o curso de jornalismo pela PUC-SP e integrante do Programa de Pós-graduação da Universidade Metodista de São Paulo.

Dentre algumas das publicações Faro já publicou, destaca-se o livro "Realidade, 1966-1968. Tempo de reportagem na imprensa brasileira".

Este é fruto de sua tese de doutorado, sob orientação do prof. dr. José Marques de Melo.
O professor foi membro do Júri do Prêmio Luiz Beltrão no ano de 2001.

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O Consensus ETC teve a honra de entrevistar esse nobre e conceituado professor de nossa própria faculdade, confira!

C- Nas décadas de 1960, 1970 e 1980 como se passava a censura, sabendo que o governo manipulava as informações que a população tinha acesso?
J.S. Faro- É preciso saber exatamente o que está sendo entendido como “censura”. Se o termo designa as restrições de natureza policial e arbitrária feitas à imprensa nos anos da ditadura militar, então a definição só pode ser aplicada ao período que vai de Dezembro de 1968 ao primeiro semestre de 1975, talvez um pouco mais. Nessa época, os governos militares, com base na Lei de Imprensa e nos critérios da “segurança nacional” simplesmente vetava matérias que tinham que ser submetidas a Brasília ou que eram proibidas de divulgação pelos censores que faziam plantão em vários jornais do país. Se o termo “censura” é usado para definir quaisquer restrições à imprensa, inclusiva as provenientes de decisões judiciais, então a análise deve ser mais ampla.
Há diversos episódios na nossa história em que matérias ou edições inteiras de veículos foram proibidas em decorrência de julgamentos, processos, ações na Justiça. Penso que não se trata propriamente de “censura”, mas de proibições que não tiveram o mesmo caráter autoritário dos anos de chumbo.

C- Como os jornalistas nessa época, faziam para trocar informações sobre o governo, sem que isso os prejudicasse?
J.S. Faro- É preciso distinguir dois movimentos nesse sentido. O primeiro é aquele que diz respeito às atividades profissionais que se desenvolviam nos órgãos da grande imprensa. Aqui, os jornalistas – e os próprios jornais que não aceitavam a censura – lançaram mão de subterfúgios que escapavam à ação da censura. Por exemplo, o Estadão com os trechos dos Lusíadas. O Jornal da Tarde com as receitas. Nos dois casos, ocupava-se o espaço da matéria censurada com textos que nada tinham a ver com o noticiário. O outro movimento é o que diz respeito à imprensa alternativa, aos jornais de oposição cujos projetos editoriais – com uma única exceção – estavam voltados para a aberta oposição ao regime (Opinião, Pasquim, Movimento, Ex). Nesses casos, a atividade da censura criava dificuldades para a circulação dos veículos, mas enfrentava uma disposição de resistência que muitas vezes foi bem sucedida. Nos dois casos, no entanto, o trabalho dos jornalistas era prejudicado porque o embate com a ditadura criava inevitavelmente dificuldades para a cobertura dos fatos.

C- No inicio década de 80 houve o movimento das “Diretas Já”, onde o povo elegeu o primeiro presidente na esperança de uma mudança para o Brasil. Como você acha que isso afetou o jornalismo brasileiro?
J.S. Faro- Penso que o movimento “Diretas Já” funcionou como um balão de oxigênio para toda a imprensa. É o primeiro movimento de massas que ocupa as ruas do país depois de 1968 e isso estimulou uma postura mais crítica dos jornalistas e de seus jornais. Até que se desse a transição conservadora que resultou na democratização política do país, o jornalismo brasileiro cresceu.

C- Na sua opinião, na era de Fernando Collor, que forças impulsionaram o impeachment? Pra você, isso mudou alguma coisa em relação ao jornalismo brasileiro?
J.S. Faro- O movimento pelo afastamento de Collor deve alguma coisa de sua existência às “Diretas Já”. A diferença entre os dois é inferior a uma década, e a memória social ainda não havia se esquecido das passeatas pela eleição do presidente da república. Penso que o jornalismo brasileiro, frente às denúncias de corrupção contra Collor e frente ao silêncio e à conivência das elites – inclusive das elites encasteladas nos meios de comunicação (Globo, por exemplo), cresceu mais uma vez.

C- Com as mudanças de moeda ocorridas nos anos 80 e 90, muitos jornalistas que também são economistas manifestaram sua insatisfação com a instabilidade gerada no país, isso o afetou profissionalmente e/ou particularmente?
J.S. Faro- Parece que não foram só os jornalistas que ficaram insatisfeitos com a instabilidade daqueles anos. Só gostavam da hiperinflação os banqueiros, comerciantes e industriais, que ganhavam muito com a desvalorização da moeda. Particularmente, a crise não chegou a me afetar materialmente.

C- Com o decorrer dos anos a censura “está maquiada”, mudou, mas ainda está presente no nosso dia a dia. Na sua opinião, onde podemos observar, com maior ênfase, a atuação da censura brasileira?
J.S. Faro- Eu discordo de que haja censura na vida brasileira, tal como a vivemos nos anos da ditadura. Há restrições ao bom jornalismo, mas esse não é um problema de censura e sim da falta de ética com que alguns empresários da comunicação conduzem seus negócios. Trata-se de um paradoxo vivido pelo jornalismo em qualquer sociedade capitalista: uma atividade voltada para o interesse público que se desenvolve no âmbito de uma empresa privada. Penso que duas coisas na sociedade não podem estar em mãos de interesses privados: a mídia e os bancos...

C- Você acha que um dia a censura pode vir a acabar?
J.S. Faro- Se o paradoxo apontado acima for resolvido..."Uma atividade voltada para o interesse público que se desenvolve no âmbito de uma empresa privada".
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A equipe Consensus ETC mais uma vez agradece a ilustre participação do Professor Faro e a colaboração que nos foi dada de pronto e com a maior das atenções nos concedeu essa exclusiva. Muito Obrigado!

Esperamos que tenham gostado, e até a próxima!

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Referências: Portal Luíz Beltrão, J.S. Faro - História, Cultura, Comunicação e Jornalismo

Entrevista por: Jeniffer Daurício
Edição de Fotografia: Marília Vezzaro
Edição de Texto: Marília Vezzaro

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