quarta-feira, 8 de abril de 2009

"O Autor no Mercadão”

O “Autor no Mercadão” REUNE JORNALISTAS E COMEMORA O DIA DA CLASSE

O Mercado Municipal de São Paulo foi palco da primeira edição do projeto “ O autor no mercadão". O evento que ocorreu no último domingo foi realizado através de uma parceria entre a RENOME (Associação de Renovação do Mercado Municipal Paulistano), e o projeto “O autor na praça”. A primeira edição teve como tema, a comemoração do Dia Nacional do Jornalista, que será na próxima terça-feira.

A iniciativa é resultado de um trabalho que já existe há dez anos. O coordenador do projeto, Edson Lima, conta que a idéia foi fruto de um outro evento que é realizado quinzenalmente na praça Benedito Calixto , chamado “O autor na praça”. Para Edson, a empreitada remonta um cenário político e engajado, cenário esse, quase apagado em São Paulo : “Essa iniciativa tem como função valorizar a história de São Paulo e incentivar o paulistano a programas mais culturais.” De acordo com ele, escolher o Mercadão foi trazer mais identidade ao evento e relembrar o contexto histórico da cidade.


O evento que teve início as 12h, contou com a abertura da orquestra ”Lua Nova” de Socorro, interior paulista. Após a abertura foi iniciada a tarde de autógrafos com os jornalistas presentes.

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Tarde de autógrafos

A bancada contou com repórteres renomados no meio jornalístico. Entre os presentes estavam: Audálio Dantas com o livro O Chão de Graciliano Ramos; José Hamilton Ribeiro com os livros O Repórter do Século, O Gosto da Guerra, Música Caipira e Tropeiros: Diário de uma Marcha; Ricardo Kotscho com os livros Do Golpe ao Planalto, uma vida de repórter, Uma vida nova e feliz... sem poder, sem cargo, sem carteira assinada, sem crachá...; Guilherme Azevedo com o livro As Aventuras de Alencar Almeida; Flávio Carrança com o livro Espelho Infiel, o negro no jornalismo brasileiro; Iva Oliveira com o livro A Força da Fé; Lucius de Mello com os livros Eny e o Grande Bordel brasileiro, A Travessia da Terra vermelha e Mestiços da Casa velha. O clima era bastante descontraído e os jornalistas falaram sobre temas polêmicos.

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A censura e a obrigatoriedade do diploma

“Aceitar a censura nunca”, afirma o jornalista e escritor, Audálio Dantas. Para ele o que há nos meios de comunicação de massa é a censura econômica, que varia de acordo com a direção do veículo. Nesse tipo de censura, segundo o jornalista, existe um direcionamento do conteúdo e da essência da matéria. Ele diz ainda que a função do jornalista é um compromisso ético, e faz referência a cláusula da concensura, vigente na Europa, que legitima como direito a isenção de assinatura do jornalista, caso a essência da matéria seja modificada pelo veículo.


O ex-assessor da presidência e repórter há mais de quarenta anos, Ricardo Kotscho, defende uma postura mais enérgica do jornalista: "A censura que eu sofri foi em 67, no Estadão. O que existe hoje é a auto-censura do jornalista, e dos interesses próprios das empresas. Eu jamais admiti a censura e nem por isso fui mandado embora, eu sempre demiti as empresas”. E completa: “O pessoal está acomodado. No jornalismo você tem que brigar por tudo, a vida do jornalista é brigar, é ir sempre até o limite." Em relação á obrigatoriedade do diploma, ele que não tem formação acadêmica, conta: "Fui jubilado no ECA e minha mãe não teve o prazer de me ver formado. Eu defendo um exame como o da OAB, para que o profissional tenha acesso a profissão, senão vira casa de ninguém, e avacalha o jornalismo.”

Um dos entrevistados, Lucius de Mello, redator do programa Hoje em Dia da Rede Record, vai além: "O poder político é refém do econômico. O jornalista precisa transitar em uma linha tênue pra que não sofra censura”, disse, fazendo referência a vulnerabilidade - leia- se risco de demissão- do jornalista no mercado de trabalho.

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O debate

A discussão foi moderada pelo editor do Jornalirismo, Guilherme Azevedo. Os temas abordados foram a revolução digital, a liberdade de imprensa e a função do jornalista na sociedade. O jornalista José Hamilton Ribeiro de 76 anos, que há cinquenta e dois anos atua na profissão foi bastante celebrado e protagonizou os melhores momentos do debate. Ele afirmou que o brasileiro tem um desconhecimento da própria identidade, e que os meios de comunicação não valorizam o “Brasil rural”. Para ele, o homem rural tem pouco incentivo de crédito do governo e pouca relevância na mídia: "A grande imprensa não conhece o Brasil, principalmente o campo. Existe hoje, uma grande atenção com o urbano e um esquecimento desastroso com o meio rural”, afirma Zé Hamilton, como é chamado pelos colegas.

Um dos ápices do debate foi a discussão sobre o advento da internet como ferramenta no trabalho jornalístico. A bancada foi enfática ao afirmar que qualquer um pode “fazer jornalismo”, e que hoje em dia é preciso ter cuidado com essa tecnologia. Para o repórter especial do programa Globo Rural, Zé Hamilton, essa liberdade dá margem á desvalorização dos bons profissionais: “Hoje qualquer cabeça de bagre põe o que ele quiser na internet”, disse fazendo referência aos pseudo-jornalistas da web.

O debate teve momentos de descontração principalmente quando a bancada foi questionada sobre "o porquê continuar na profissão”. As respostas formaram um elo entre o bom-humor e a paixão pelo ofício: ”O jornalismo é a melhor profissão pra se sair a tempo”, brincou Zé Hamilton. Para Kostcho, é uma questão de sobrevivência: “Eu não saberia fazer outra coisa da vida que não fosse ser um jornalista.”

O evento também contou com a presença do presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Guto Camargo, que louvou a iniciativa e convidou os estudantes presentes para aderirem ao movimento da categoria.

Reportagem: Ingrid Thomas e Juliana de Abreu

Textos: Ingrid Thomas

Imagens: Juliana de Abreu

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