A chegada do homem a lua, a descoberta da pílula anticoncepcional, a guerra fria, o rock de Jim Morrison (The Doors), o discurso de Timothy Leary, o início da Pop Art e o movimento feminista, foram alguns dos eventos que marcaram a década da revolução.
Negar o slogan norte americano “the american way of life”, veemente cultuado quando surgiu em 1920, foi marcante para esta historia.
O festival de música de Woodstock em 1969 e a revolução dos estudantes de Paris, em 1968, foram marcos que registraram sua essência.
Em contrapartida com a revolução francesa, a contracultura pregava uma sociedade embasada na anarquia, na paz, e no amor; atitude hippie e a vida em comunidade.
Este movimento foi bastante influenciado pela "beat generation" que teve início nos anos de 1950, e era formado por escritores engajados e subversivos. Eles traziam a revolução cultural em suas obras com temáticas muita das vezes obscenas e rebeldes, cujo lema era a não-conformidade e a criatividade espontânea. Logo a ideologia atraiu os jovens que não se ajustavam a glória mostrada pelos americanos após a segunda guerra, sendo berço para outras novas subculturas surgirem mais a frente, o que nos mostra o movimento punk em 1970.
Os escritores ícones beat: Allen Ginsberg, Jack Kerouac e Willian Burroughs, propunham largar tudo e se lançar na estrada, em busca de viagens para o corpo e para a alma, como no filme “Easy Rider”, que ilustra a década e mostra a luta de jovens pela sua liberdade.
In-prensa e Contracultura no Brasil
A maior divulgação da contracultura feita no Brasil era na coluna de Luiz Carlos Maciel chamada "Underground", publicada no mais influente jornal de oposição à ditadura militar, "O Pasquim"; principalmente por que no início da publicação, toda a juventude lia o tablóide.A partir de 1979, o público principal passou a ser de profissionais liberais de meia idade. Foi um dos mais lembrados da imprensa alternativa e também o que mais durou.
Maciel, foi considerado o “guru” da contracultura brasileira e 1971 contribuía com a imprensa alternativa em outro jornal. "Flor do Mal" explorava "a liberdade da loucura de cada um", na definição de seu fundador. O título era inspirado pelo poeta Charles Baudelaire e teria sido uma ideia do poeta Torquato Neto. O primeiro número do jornal, que quase não saiu por conta da censura, tinha uma sinistra frase de Baudelaire sobre a imprensa e a foto de uma menina anônima.
"Flor do Mal" foi considerado especialmente entre os mais radicais como um marco da contracultura brasileira.
O Top Top Contracultural
Dentre os 150 periódicos que circularam de 1964 á 1980 e ficaram mais conhecidos como imprensa alternativa, foram: "Flor do Mal", "Presença", "Rolling Stone" e "Bondinho" e eram os principais divulgadores das alternativas de vida criadas pela contracultura no exterior e aqui no Brasil;
"Presença" só chegou ao segundo número e seu tema principal eram as viagens a lugares exóticos, divulgando assim a tendência pelo Orientalismo, tão presente na contracultura; "Rolling Stone", basicamente uma tradução da revista homônima norte-americana, era editada por Maciel, tendo seu primeiro volume em 1972, quando saudava a volta de Caetano ao Rio de Janeiro. O tema geral da revista era o rock´n roll, e a expressão da cultura de massa, que foi a rebeldia dos jovens nos Estados Unidos;
O "Bondinho" começou como um jornal de serviços do grupo Pão de Açúcar, aos poucos adotou uma linha editorial alinhada à contracultura. Liberou-se tanto dessa relação comercial que, após um contato com Caetano e Gil por ocasião do retorno deles do exílio e de uma edição dedicada aos dois novos baianos, adotou, segundo Kucinski, a filosofia do "transbunde": liberação geral. O projeto visual era muito ousado para a época, além de colorido e muito bem acabado, mantendo-se avançado até para os padrões atuais.
As entrevistas, em geral com ícones da contracultura, eram publicadas na íntegra, sem cortes. Passaram pelo "Bondinho" quase todos os tropicalistas, políticos e médicos alternativos, como Jerry Rubin, o fundador do Yippie (ou partido internacional da juventude), o terapeuta corporal Dr. José Ângelo Gaiarsa e médicos alternativos da clínica livre de Ashbury Height (Bairro Hippie em São Francisco), feministas, como Simone de Beavouir e Rose Marie Muraro, e artistas, como Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil, José Celso Martinez, Rogério Duprat, Jorge Mautner e Luis Carlos Maciel.
A Censura e o Fim
A censura, a partir de 68, impedia a grande imprensa de tratar de muitos assuntos. Isto criou um espaço para a imprensa alternativa crescer e dentro dela que ocorreu boa parte da divulgação da contracultura, apesar das adversidades.
As soluções esbanjavam criatividade, mas só se tornaram viáveis graças a dedicação e coragem de seus realizadores, junto às inovações do jornalismo principalmente visuais e gráficas, que foram incorporadas pelos cadernos de cultura da grande imprensa.
Já sem a força da censura, os grandes jornais passaram a ocupar os espaços antes ocupados pela imprensa alternativa, que não ressurgiu.
A contracultura brasileira deixou marcas na cultura nacional e alguns dos bens simbólicos produzidos por seus membros continuam a ser consumidos.
Hoje, temos a revista "Caros Amigos", que mantêm a chama do jornalismo alternativo com certo monopólio popular.
Para muitos, como para Luiz Carlos Maciel, uma imprensa alternativa hoje ainda é possível, principalmente, com a ajuda das tecnologias e da Internet, porém, a absorção em massa da indústria cultural popular desvirtua a essência de um movimento mais esquerdista.
Muitos autores dizem que o movimento alternativo encerrou seu ciclo histórico, por conta da comercialização dos valores contraculturais tão comuns na atualidade.
“Se é inevitável essa absorção, vamos então fazer com que essa absorção seja feita de modo a talvez preservar o que seja, o que mereça ser preservado, o que é a essência da coisa” - Jorge Mautner, poeta da contracultura para o "Bondinho" em 1972.
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Pauta por: Jeniffer Daurício
Texto por: Marília Vezzaro
Edição de Imagem por: Marília Vezzaro
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